29/03/2024 às 10h41min - Atualizada em 29/03/2024 às 10h41min

Casca da jabuticaba reduz inflamação e glicemia em pessoas com síndrome metabólica

Em estudo com 49 participantes, pesquisadores da Unicamp observaram que o consumo diário de um suplemento contendo 15g da substância ao longo de 5 semanas melhorou o metabolismo de glicose, inclusive após as refeições

Maria Fernanda Ziegler
Portal Agência FAPESP
Alexandre Campolina / Wikimedia Commons
Geralmente descartada por seu sabor adstringente, de “amarrar a boca”, a casca da jabuticaba pode ser uma excelente aliada no tratamento da obesidade e da síndrome metabólica, sugere estudo publicado na revista Nutrition Research.
 
Conduzida por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a pesquisa mostrou que o consumo diário de pelo menos 15 gramas da casca da fruta melhorou, ao longo de cinco semanas, os níveis de inflamação e de glicose no sangue de indivíduos com síndrome metabólica e obesidade.
 
“Os compostos fenólicos e as fibras presentes na casca da jabuticaba têm o poder de modular o metabolismo da glicose. Já tínhamos observado esse efeito em estudos anteriores. Neste trabalho, no entanto, avaliamos o consumo prolongado e descobrimos que esse efeito na glicose se dá inclusive no período posterior à refeição, ou seja, na glicemia pós-prandial”, afirma Mário Roberto Maróstica Júnior, professor da Unicamp e coordenador da investigação.
 
Segundo o pesquisador, mesmo em indivíduos saudáveis a glicemia costuma aumentar após as refeições, voltando depois aos níveis normais. “Portanto, algo que possa baixar a glicemia após uma refeição é interessante, pois faz com que o sujeito tenha níveis controlados de açúcar no sangue ao longo do tempo, o que resulta em uma vida mais saudável e parâmetros mais controlados”, explica.
 
O trabalho, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), por meio de três projetos, envolveu 49 participantes com síndrome metabólica e obesidade. Parte recebeu um suplemento diário com 15 gramas de casca de jabuticaba por cinco semanas, e os demais, apenas placebo. Todos foram submetidos a exames de sangue para monitoramento da glicemia.
 
Também foram avaliadas as medidas antropométricas, como peso corporal e circunferência abdominal, além de pressão arterial e parâmetros inflamatórios, como a proteína interleucina-6, considerada um marcador de inflamação relacionada à obesidade.
 
“O estudo apontou resultados positivos em relação à diminuição da glicemia pós-prandial e níveis de inflamação no grupo que recebeu o suplemento. Mas vale ressaltar que a casca da jabuticaba não faz milagre, ela é apenas uma excelente maneira de auxiliar a modulação da glicemia. Isso quer dizer que a estratégia precisa vir acompanhada de outras medidas, como boa alimentação e exercício físico”, destaca o pesquisador em entrevista à Agência FAPESP.
 
Compostos bioativos
 
Entre os compostos fenólicos presentes na casca da jabuticaba estão as antocianinas que, além de conferirem a cor arroxeada à jabuticaba e a outras frutas, interferem no metabolismo da glicose, estimulando, sobretudo, as células L-intestinais. “Quando essas substâncias chegam ao intestino, entram em contato com as células L, responsáveis pela liberação de um composto chamado GLP-1 (glucagon-like peptide-1), que estimula a liberação de insulina na célula pancreática”, diz Maróstica Júnor.
 
O pesquisador ressalta que é a insulina liberada no pâncreas que melhora a utilização da glicose. “Essa é uma das funções da insulina: chegando às células musculares – que são grandes captadoras de glicose – ela realiza uma cascata de sinalização que favorece o transporte da glicose para dentro da célula”, conta ele.
 
A síndrome metabólica é um conjunto de alterações metabólicas e hormonais que eleva o risco do indivíduo de desenvolver doenças cardiovasculares. Ela é caracterizada por pressão alta, obesidade abdominal, nível elevado de açúcar no sangue (hiperglicemia) e níveis anormais de triglicerídeos e HDL-colesterol. No estudo, os 49 participantes com síndrome metabólica apresentavam pelo menos três desses cinco fatores.
 
O pesquisador ressalta ainda que a obesidade em geral está associada com níveis mais elevados de moléculas pró-inflamatórias. “É como se a pessoa tivesse uma inflamação constante e isso prejudica toda a ação da insulina. Por isso que, em geral, pessoas com sobrepeso e obesidade têm também resistência à insulina. Nesses casos, geralmente, apesar de a insulina ser produzida, ela não atua”, diz o professor da Unicamp.
 
Geralmente esse desbalanço nos níveis de glicose (que leva ao diabetes do tipo 2) pode ser corrigido com medicamentos ou a adoção de hábitos saudáveis e a perda de peso. “A casca da jabuticaba atua também reduzindo a interleucina -6, que tem papel-chave no desenvolvimento de resistência insulínica e contribui para a inflamação do tecido adiposo. Ela tem, portanto, um efeito positivo não só na glicose pré-prandial, mas também reduz os níveis de inflamação, o que a torna uma aliada para os casos de síndrome metabólica”, diz Maróstica Júnior.
 
O problema, segundo o pesquisador, é que ninguém quer comer a casca da jabuticaba por ela ser muito adstringente. “Mas isso pode ser contornado com o consumo de extratos e suplementos com a casca da fruta já disponíveis no mercado”, completa ele.
 
O artigo “Jaboticaba peel improves postprandial glucose and inflammation: A randomized controlled trial in adults with metabolic syndrome” pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0271531724000277?via%3Dihub
 

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