12/03/2024 às 10h31min - Atualizada em 12/03/2024 às 10h31min

Estudo da Unifesp mostra que ampliação da área de proteção em Alcatrazes ajudou na recuperação de espécies de tubarões ameaçadas de extinção

Pesquisadores(as) registraram a presença de sete espécies de tubarões no arquipélago do litoral paulista

Alexandre Milanetti
Portal Unifesp
Cortesia: Léo Francini
Em tempos de agravamento da devastação ambiental e da intensificação das mudanças climáticas globais, com seus consequentes efeitos sobre todos os seres vivos que habitam o planeta, um estudo liderado por pesquisadores(as) do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (IMar/Unifesp) - Campus Baixada Santista (em Santos/SP) reforça o quão importante é a expansão das áreas de proteção dos diversos ecossistemas, fazendo com que o reequilíbrio da própria natureza se mostre possível, viabilizando o ressurgimento da vida em suas diversas manifestações. Foi o que aconteceu na região do Arquipélago de Alcatrazes com as populações de diversas espécies de tubarões ameaçadas de extinção conseguindo se recuperar.
 
“Ecossistemas equilibrados beneficiam os predadores de meio e de topo da cadeia alimentar, que ajudam a manter a qualidade do habitat. Assim, a presença de tubarões pode ser considerada um indicador de saúde ambiental”, explica o líder do estudo, Fábio Motta, pesquisador do Laboratório de Ecologia e Conservação Marinha (LabecMar) e professor do IMar/Unifesp.
 
A pesquisa integra o projeto Mar de Alcatrazes, uma iniciativa que conta com o apoio da Petrobras e, desde 2022, tem monitorado a biodiversidade marinha do arquipélago utilizando várias metodologias, incluindo as estéreos filmagens remotas subaquáticas com isca (BRUV). Segundo o professor Motta, os BRUV’s foram usados para avaliar a abundância relativa de tubarões em Alcatrazes, arquipélago localizado a cerca de 35 Km da costa do litoral norte de São Paulo, na altura da cidade de São Sebastião.
 
Com essa técnica, para alegria dos(as) pesquisadores(as), foi possível observar e registrar a presença de tubarões em 16 (10,7%) das 150 operações de BRUV, com registro de sete espécies (Squalus cf. albicaudus – cação-bagre-da-cauda-branca; Carcharias taurus – tubarão-mangona; Carcharhinus plumbeus – tubarão-galhudo; Carcharhinus falciformis – tubarão-seda; Rhizoprionodon porosus – cação-frango; Sphyrna lewini – tubarão-martelo-recortado; e Sphyrna zygaena – tubarão-martelo-liso).
 
A pesquisa teve início após uma importante expansão da zona de proibição de pesca, de 12 km2 para 675 km2 com a criação do Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes (criado em 2016) e reforço da fiscalização, comparando as descobertas deste estudo com pesquisas anteriores também realizadas com BRUV. Para Motta, esses dados combinados com a percepção de mergulhadores(as) frequentes e experientes [da equipe de gestão do refúgio e operadores(as) de mergulho] sobre o aumento de avistamentos de tubarões, sugerem um efeito positivo recente do Refúgio de Alcatrazes para estes predadores e um ecossistema mais saudável.
 
Das sete espécies de tubarões registradas, seis são classificadas como ameaçadas de extinção pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN). Para Fernanda Rolim, pesquisadora do LabecMar/Unifesp e pioneira no uso de BRUV em ambiente marinho no Brasil, fazer o registro em vídeo de uma espécie criticamente ameaçada de extinção como o tubarão-mangona (Carcharias taurus), no interior do refúgio foi um momento muito gratificante para toda a equipe. “Os resultados mostram também que o monitoramento a longo prazo e a proteção do Refúgio de Alcatrazes são cruciais para manter e aumentar os efeitos positivos na área”, ela analisa.
 
O Refúgio de Alcatrazes é uma unidade de conservação federal administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O refúgio abriga mais de 1.500 espécies, com uma parcela significativa ameaçada de extinção. “O arquipélago é área de alimentação, reprodução e descanso para mais de 10 mil aves marinhas e, em suas águas, está a maior quantidade de peixes recifais da região sudeste do Brasil, das mais variadas formas e cores, que lá encontram o ambiente ideal para reprodução e crescimento”, destaca a bióloga Kelen Leite, gestora do Refúgio de Alcatrazes.
 
O estudo intitulado “Efeitos iniciais da expansão e aplicação de uma reserva marinha subtropical sobre espécies ameaçadas de tubarões” foi publicado no último dia 10 de janeiro no periódico Environmental Biology of Fishes da Springer.
 
Além de Fábio Motta e Fernanda Rolim, o artigo do estudo também é assinado pelos(as) pesquisadores(as) do LabecMar/Unifesp Ana Clara S. Athayde, Maisha Gragnolati, Rafael Munhoz, Luiza Chelotti, Nauther Andres, Guilherme H. Pereira-Filho, além de Otto Gadig (professor do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista – Unesp, Campus do Litoral Paulista, em São Vicente).


 

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