11/09/2024 às 10h07min - Atualizada em 11/09/2024 às 10h07min

Queimadas e tempo seco: especialista alerta para cuidados com a saúde

Professor da Faculdade de Saúde Pública da USP recomenda atenção especial com idosos e crianças

Portal Agência SP
Pablo Jacob / Governo SP
O cenário de tempo seco, alta ocorrência de incêndios e baixa qualidade do ar favorecem o aumento de doenças respiratórias e cardiovasculares. Com as queimadas que atingem diferentes regiões do estado, o Governo de São Paulo reforça a importância dos cuidados com a saúde, especialmente nas crianças e nos idosos.
 
A baixa qualidade do ar ocasionada pelas queimadas se agrava pela atuação de uma massa de ar quente, seco e estável, aliada à ausência de chuvas, o que dificulta a dispersão dos poluentes. O Mapa de Risco de Incêndio da Defesa Civil de SP indica nível de emergência para queimadas em quase todo o território paulista até o próximo sábado (14/09).
 
O gabinete de crise montado pela gestão estadual no Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) na Defesa Civil Estadual segue mobilizado no monitoramento e coordenação das ações de prevenção e combate aos incêndios.
 
Qualidade do ar
 
Ontem, terça-feira (10/09), 41 das 57 estações medidoras do Estado apontaram a qualidade do ar como “ruim” ou “muito ruim”, de acordo com boletim diário da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).
 
As classificações indicam que toda a população pode apresentar sintomas como tosse seca, cansaço, ardor nos olhos, nariz e garganta. Em casos mais graves, podem surgir sintomas como falta de ar e respiração ofegante. Pessoas de grupos sensíveis — crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias e cardíacas — podem apresentar efeitos mais sérios na saúde.
 
“Quando a poluição do ar é somada a esses dias de tempo seco, os efeitos na saúde podem ser ainda mais graves, pois além desses sintomas pode se agravar ainda mais os problemas respiratórios, além de causar problemas cardíacos”, afirma Thiago Nogueira, professor do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP).
 
Para ampliar a capacidade de atendimento, o Governo de São Paulo tem desde o mês passado um plano emergencial na área da saúde, especialmente na região de Ribeirão Preto, uma das áreas mais atingidas pelos incêndios.
 
Coordenado pela Secretaria de Estado da Saúde e o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP) da USP), o pacote apresentado aos 26 municípios da região prevê a ampliação dos serviços de telemedicina, com médicos que estão disponíveis 24 horas por dia para orientar as equipes de saúde e encaminhar os casos mais graves para hospitais de referência.
 
Qual o risco à saúde gerado pelas queimadas?
 
Inalar fumaça e fuligem das queimadas pode agravar crises de asma, aumentar o risco de inflamação nos pulmões e irritar as mucosas, a pele e os olhos, o que pode evoluir para uma conjuntivite bacteriana. No nariz, os poluentes causam inflamação, acarretando quadros de rinite e sinusite.
 
Nogueira ainda explica que, além dos efeitos de curto prazo, a exposição prolongada à poluição do ar pode causar problemas mais graves a médio e longo prazo, como câncer de pulmão, doenças cardíacas e até cerebrais. Quando expostos à fumaça das queimadas, os pulmões entram em contato com poluentes na forma de partículas finas, que podem penetrar no sistema respiratório.
 
As substâncias também irritam os tecidos pulmonares, causando inflamação e reduzindo a capacidade dos pulmões de transportar oxigênio para o sangue, o que pode levar a problemas respiratórios crônicos como bronquite e asma, além de aumentar o risco de danos permanentes ao tecido pulmonar. De acordo com o professor, isso contribui para o desenvolvimento de doenças como enfisema pulmonar.
 
“Os cientistas de todo mundo já estão convencidos de que a poluição do ar causa inúmeras doenças e não somente doenças relacionadas ao pulmão. A Organização Mundial da Saúde [OMS] estima que todos os anos cerca de 08 milhões de pessoas morrem prematuramente por conta da poluição do ar”, alerta Nogueira.
 
Quem são os mais afetados?
 
Crianças e idosos são mais vulneráveis a sofrer impactos na saúde em incêndios, com o sistema respiratório, cardiovascular, olhos e a pele menos protegidos.
 
De acordo com Nogueira, as crianças são mais sensíveis devido ao seu sistema imunológico ainda estar em desenvolvimento: “Além disso, as crianças têm uma taxa de respiração maior do que a taxa de respiração dos adultos e, por isso, inalam uma quantidade maior de ar poluído”.
 
Ainda segundo o especialista, os idosos são mais impactados pelo fato de, muitas vezes, possuírem doenças pré-existentes, sejam elas respiratórias ou cardíacas, o que fragiliza o sistema imunológico, que é o mecanismo de defesa do organismo.
 
Além disso, pessoas com asma, doenças pulmonares crônicas, sinusite, rinite alérgica e doenças cardiovasculares também devem ficar atentas: “Pessoas com problemas cardíacos, respiratórios ou imunológicos devem tomar mais cuidado, pois são as que mais sofrem nesse período. Elas devem evitar atividades físicas em horários de elevados níveis de poluição do ar”, lembra o professor da USP, ressaltando a importância de se manter os medicamentos prescritos sempre disponíveis em casos de crises agudas.
 
Recomendações de saúde
 
A principal recomendação é que pessoas com doenças cardíacas ou pulmonares, além de idosos e crianças, evitem esforço físico pesado ao ar livre. Também é recomendado beber bastante água para manter a hidratação do organismo e das vias aéreas, lavar nariz e olhos e evitar locais com concentração de fumaça.
 
Para quem estiver dentro de casa, a orientação é que permaneça em local ventilado. Equipamentos como purificadores de ar ajudam a manter a umidade: “Outra recomendação é que as portas e janelas permaneçam fechadas durante os horários com elevadas concentrações de poluição, para reduzir a entrada dessas partículas de fora para dentro das residências”, aponta Nogueira.
 
O especialista em Saúde Pública recomenda também o uso de máscaras cirúrgicas, preferencialmente do tipo PFF2 ou N95, em regiões com grande incidência de queimadas: “Ou mesmo lenços de pano para reduzir a exposição às partículas mais grossas, especialmente para quem mora próximo a locais de incêndio, de forma a diminuir o desconforto das vias aéreas superiores”, indica Nogueira.
 

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